quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CENAS DA CIDADE( ESPERAR É PRECISO...)



Uma cena rotineira me proporcionou a ideia deste poema. Uma moça na calçada aguardando a condução. Existe algo mais comum num dia de semana qualquer? Entretanto, ao me dirigir até a janela, pude observar lá embaixo a moça andando de um lado para outro, sua energia transborda, exibe sua aflição...  Meus pensamentos ali focados, entenderam sua mensagem, um sopro de vida a esperar pelo destino. Pode ser a qualquer tempo, em algum lugar, numa grande cidade ou quem sabe em um pequeno povoado distante, perdido no meio do nada, alguém estará a esperar pelos desígnios do seu próprio destino, como entender? Temos pressa, não queremos esperar!!! ...
Assim, nascem de alguma forma as crônicas, apenas por mera observação de coisas corriqueiras do dia a dia, num recanto qualquer do universo.
Já é fim de ano, estamos no Natal, realmente o tempo passou depressa, nem percebemos o transcorrer das horas e dos dias!!!
A foto ao lado é de um trabalho de minha autoria, óleo sobre tela "Fundo de Quintal, reminiscências" med. 70x50cm.

Cenas da Cidade
                                  Mary Balth SP. 17/02/2011
Uma moça na calçada,
Aguardando a condução,
Impaciente caminha para um lado
         e para o outro...
Num ponto de transição.

A moça pensa e repensa,
Os pensamentos estão soltos,
Como bichos sem controle,
A moça e suas promessas,
Seus desejos mais secretos,
Sepulta seus sentimentos,
Num canto escuro e profundo,
Tenta esquecer os seus sonhos,
Na rotina desse dia...

Será que o destino existe?
Pergunta a moça inocente,
As horas passam depressa...
É o relógio verdadeiro,
Nas horas que faz soar?

A lua se mostra leve
Nessa tarde de verão,
Aguarda a noite chegar,
Para exibir a beleza
De uma noite de luar...

Repica o sino na igreja,
O sol se põe no horizonte,
A chuva cai tão pesada,
Lavando os muros, as casas,
Lavando a alma, afinal...

E a moça na calçada,
Continua a esperar,
Um dia meu Deus, quem sabe,
Depois de tanto aguardar
Seu jardim vai florescer
E as rosas irão brotar!...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O R V A L H O ( Tobias Barreto ) para sonhar um pouco...



Hoje lhes presenteio  com um poema de amor dos mais lindos do nosso rico idioma, do ilustre jurista, crítico, filósofo e poeta, Tobias Barreto de Menezes, sergipano da cidade de Campos (Sergipe) , atualmente esta cidade tem o seu nome. Nascido em 7 de junho de 1839- falecido a 26 de junho de 1889( Recife- PE). Foi ele um dos maiores talentos do nosso país. Membro da Academia Brasileira de Letras ocupou a Cadeira nº 38.
Não ficou famoso como o nosso  Príncipe Castro Alves, condoreiro reconhecido e amado por todos. Entretanto em minha infância muitos dos seus versos li e reli em voz alta e decorei com prazer. Vou lhes apresentar um poema de amor denominado “ORVALHO”  gravado em meu coração há muito, muito tempo...  De invulgar cultura, seus versos têm a magia de impregnar-se em nossa alma e ali permanecerem. São belos demais e também cheios da força necessária das palavras expressas no sentimento verdadeiro, seja de dor ou de amor, de felicidade ou de tristeza...
Onde você estiver querido poeta, todo o meu amor de seguidora . Vamos a ler este lindo poema mais doce do que o mel .
Ao lado, foto de trabalho de minha autoria, óleo sobre tela  "FLORES E FRUTOS DA TERRA" (med. 30 x 40 cm)


           “ORVALHO”  -  Tobias Barreto

    Um riso, um gesto, umas palavras doces,
    Eis a riqueza deste grande amor.
    Se Deus quisesse reduzi-lo a orvalho,
    Não ensopava a pétala de uma flor.

    Entretanto, minh’alma que te adora,
    Minh’alma que a teus pés caiu vencida,
    Nesse pingo de amor quase invisível,
    Acha gozos do céu que dão-lhe a vida.

domingo, 4 de dezembro de 2011

" PÁSSARO CATIVO "



Aprendi a amar este poema fantástico,  de um dos maiores poetas brasileiros Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. No velho casarão das minhas tias, Professoras aposentadas, bem formadas e cultas, havia estantes repletas de livros numa pequena cidade do interior de Sergipe, lá no Nordeste do Brasil. Fomos criados ali, naquela casa silenciosa e cheia de segredos.  Tenho desde criança, uma boa memória visual e a tenho até hoje. Facilmente decorava todos os poemas que me encantavam, seduziam e os declamava.  Quando somos tocados pelas Artes estas vem ao nosso encontro, entram em nossa vida, colam em nossa aura, nunca mais se vão. Podemos estar ausentes por algum tempo, por ocorrências da própria vida, mas quando seduzidos,  fatalmente voltamos ao seu regaço, retornamos ao ninho antigo, assim como voltam os pássaros, também. As recordações da infância me levaram a criar a minha tela O PÁSSARO CATIVO, apresentando a história desse lindo poema que permanece na memória para sempre. Óleo sobre tela, med. 70 x50 cm.Mary Balth 2005.           

“O PÁSSARO CATIVO”
 OLAVO BILAC – do livro  “Poesias Infantis”

Armas num galho de árvore o alçapão,
E em breve, um avezinha descuidada,
Batendo as asas, cai na escravidão.

Dás-lhe então por esplêndida morada,
A gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, água fresca e ovos e tudo.
Porque é que tendo tudo,
Há de ficar o passarinho mudo,
Arrepiado e triste sem cantar? !

- É que criança, os pássaros não falam,
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens o possam entender...
Se os pássaros falassem, talvez os teus ouvidos escutassem,
Esse cativo pássaro dizer:

“ Não quero o teu alpiste, gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste.
Tenho água fresca num recanto escuro,
Da selva em que nasci,
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores sem precisar de ti.
Não quero a tua esplêndida gaiola, pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi.
Prefiro o ninho humilde construído
De folhas sêcas, plácido e escondido
Entre os galhos das árvores amigas...

Solta-me ao vento e ao sol,
Porque me prendes, solta-me , covarde, Deus me deu por gaiola a imensidade,
Não me roubes a minha liberdade,
Quero voar, voar...?”

Estas coisas o pássaro diria, se soubesse falar.
E a tua alma criança, tremeria, vendo tanta aflição,
E a tua mão tremendo, lhe abriria a porta da prisão.