Aprendi a amar este
poema fantástico, de um dos maiores
poetas brasileiros Olavo Brás Martins dos
Guimarães Bilac. No velho casarão das minhas tias, Professoras aposentadas,
bem formadas e cultas, havia estantes repletas de livros numa pequena cidade do
interior de Sergipe, lá no Nordeste do Brasil. Fomos criados ali, naquela casa silenciosa
e cheia de segredos. Tenho desde
criança, uma boa memória visual e a tenho até hoje. Facilmente decorava todos
os poemas que me encantavam, seduziam e os declamava. Quando somos tocados pelas Artes estas vem ao
nosso encontro, entram em nossa vida, colam em nossa aura, nunca mais se vão.
Podemos estar ausentes por algum tempo, por ocorrências da própria vida, mas
quando seduzidos, fatalmente voltamos ao
seu regaço, retornamos ao ninho antigo, assim como voltam os pássaros, também. As
recordações da infância me levaram a criar a minha tela O PÁSSARO CATIVO, apresentando
a história desse lindo poema que permanece na memória para sempre. Óleo sobre tela, med. 70 x50 cm.Mary Balth 2005.
“O PÁSSARO CATIVO”
OLAVO BILAC –
do livro “Poesias Infantis”
Armas num galho de árvore o alçapão,
E em breve, um avezinha descuidada,
Batendo as asas, cai na escravidão.
Dás-lhe então por esplêndida morada,
A gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, água fresca e ovos
e tudo.
Porque é que tendo tudo,
Há de ficar o passarinho mudo,
Arrepiado e triste sem cantar? !
- É que criança, os pássaros não
falam,
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens o possam
entender...
Se os pássaros falassem, talvez os
teus ouvidos escutassem,
Esse cativo pássaro dizer:
“ Não quero o teu alpiste, gosto
mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me
viste.
Tenho água fresca num recanto escuro,
Da selva em que nasci,
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores sem precisar
de ti.
Não quero a tua esplêndida gaiola, pois
nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi.
Prefiro o ninho humilde construído
De folhas sêcas, plácido e escondido
Entre os galhos das árvores
amigas...
Solta-me ao vento e ao sol,
Porque me prendes, solta-me ,
covarde, Deus me deu por gaiola a imensidade,
Não me roubes a minha liberdade,
Quero voar, voar...?”
Estas coisas o pássaro diria, se
soubesse falar.
E a tua alma criança, tremeria,
vendo tanta aflição,
E a tua mão tremendo, lhe abriria a
porta da prisão.
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