“O PÁSSARO CATIVO”
OLAVO
BILAC – do
livro “Poesias Infantis”
Armas num galho de árvore o
alçapão,
E em breve, um avezinha
descuidada,
Batendo as asas, cai na
escravidão.
Dás-lhe então por esplêndida
morada,
A gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, água fresca e
ovos e tudo.
Porque é que tendo tudo,
Há de ficar o passarinho mudo,
Arrepiado e triste sem cantar? !
- É que criança, os pássaros
não falam,
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens o possam
entender...
Se os pássaros falassem, talvez
os teus ouvidos escutassem,
Esse cativo pássaro dizer:
“ Não quero o teu alpiste,
gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me
viste.
Tenho água fresca num recanto
escuro,
Da selva em que nasci,
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores sem
precisar de ti.
Não quero a tua esplêndida
gaiola, pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi.
Prefiro o ninho humilde
construído
De folhas sêcas, plácido e
escondido
Entre os galhos das árvores
amigas...
Solta-me ao vento e ao sol,
Porque me prendes, solta-me ,
covarde, Deus me deu por gaiola a imensidade,
Não me roubes a minha liberdade,
Quero voar, voar...?”
Estas coisas o pássaro diria,
se soubesse falar.
E a tua alma criança, tremeria,
vendo tanta aflição,
E a tua mão tremendo, lhe
abriria a porta da prisão.
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