Todos os dias, ao voltar do serviço para
casa à tardinha, à hora do sol posto, via parado, encostado no corredor da
Estação Ana Rosa do Metro , aquele homem.
Tinha o olhar distante, a face sem
expressão, e o pouco que possuía, ali estava, numa mala no chão ao seu lado.
Muitos estão na mesma situação, mas não sei mesmo explicar, este ser humano me
deixava pensativa, preocupada... Não há explicações para certos pensamentos, ou
fatos que nos incomodam, que nos deixam perplexos, quando tantos outros passam
despercebidos. A casa, o lar, é sempre sagrado e os que não mais o têm, que o
perderam por algum motivo, conseguem me causar grande dor. Quando até mesmo os
pássaros, os peixes, todos os animais de alguma forma voltam aos seus ninhos à
procura de abrigo, conforto e segurança... um homem, um ser humano, assim como
este que via todas as tardes, não tinha mais para onde retornar, dormir,
descansar e se abrigar !!! ... para contar a história desse ser, fui
elaborando uma vida para ele, que talvez houvesse possuído, um dia...."
uma casa, flores na varanda, crianças brincando no quintal"... agora
apenas recordações e o fingir que espera um trem, um trem, que nunca vem!!!
Assim, naquela noite do dia 11/03/97, ao chegar em casa, o meu filho,
falou-me: ..."Vamos escrever?" Pôs então para tocar um Noturno
de Chopin, e naquele ambiente de música e paz nasceu este poema. Aquela
história profundamente triste, veio para mim, completa, inteira, e se
revelou nos versos que abaixo transcrevo. Confesso que muito chorei ,e algumas
vezes ainda choro, e dessa forma dei-lhe o nome de "POEMA TRISTE"
História do Cotidiano.
Estou postando mais uma vez o POEMA TRISTE
( HISTÓRIA DO COTIDIANO) publicado no meu Blog em 10/12/2010. Todas as
vezes que declamei estes versos tão realistas, vi, observei nos olhos das
pessoas que me escutavam o brilho do interesse e da compreensão. Estas vidas
perdidas, desperdiçadas muitas vezes pela falta de oportunidades sempre nos
comovem.
Foto ao lado: paisagem RECANTO DO INTERIOR" - óleo sobre tela.
POEMA TRISTE -
História do Cotidiano
Mary Balth 11/03/1997
O homem na estação,
Em vão espera o trem,
Um trem que nunca vem...
O homem na estação,
Mergulha em pensamento,
Emerge noutro tempo,
Um tempo que não tem,
tristeza e solidão ...
Ao lado, a mala pobre
É tudo que restou...
E deixa-se absorto
Entrar no labirinto
Do tempo que passou...
“ Revê a casa amiga,
As rosas na varanda,
As roupas no varal...
E os gritos das crianças,
Correndo no quintal ! ”
Por isso todo dia,
Na hora do sol posto,
Agora que não tem,
pra onde retornar,
Eu vejo com desgosto,
O homem na estação,
Que em vão espera o trem
Um trem que nunca vem !!! ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço sua sinceridade e visitas ao Blog...